IMPRIMATUR

- LIBERUM ARBITRIUM -

UM PEQUENO DIÁRIO DA LOUCURA

Coletânea de textos escritos sob forte inspiração sinestésica... a maioria em forma de crônica! As emoções inspiradoras de cada texto foram expressas fielmente nos momentos das escritas, porém, ao longo do tempo, ideias, opiniões e sensações sobre os assuntos podem ter sofrido metamorfoses. A liberdade do pensar e expressar prevalece na escrita, sempre!

Atenção!!!

Acione o áudio abaixo para entrar na sintonia do texto : ARQUIVOS HISTÓRICOS

Na série arquivos históricos, vou postar coisas que escrevi em tempos anteriores, coisas estas que, devido a minha grande [des]organização se encontravam em papeis avulsos, algum pedaço de papel esquecido lá no fundo da gaveta... naquela folha daquele caderno velho... enfim.


8 DE JUNHO DE 2007

Arquivos Históricos

Foto: Igor Monteiro

Sinto-me como que em outra dimensão, um turbilhão de sentimentos agita minhas entranhas quando, ao som do Adagio de Albinoni, vislumbro o nascer da lua, numa cor quase púrpura... surgindo das trevas da noite no horizonte. Ela surge linda e hipnotizante, me fazendo transcender por alguns minutos a algum lugar desconhecido, onde só o que importa é o ser sinestésico.

Desloco-me para um possível futuro, onde encontro-me em um momento de reverência... um funeral... de uma pessoa que amo com um amor tremendo, um amor ágape.

A melodia soa enquanto vejo o caixão descendo ao sepulcro, branco... Coberto com lindas flores... O rosto pálido... Sorriso sereno... Surge um grande aperto em meu peito, e um vazio... Um vácuo... Como se meu coração houvesse sido arrebatado... Restando apenas o vazio.

Meus olhos lacrimejam ao sentir fisicamente a dor de uma perda, perda de uma pessoa querida... o caixão desce lentamente... a paisagem é de desconsolo.

Ao sentir os olhos cheios de lágrimas, embalado pelo lindo Adágio, volto a olhar pela janela o satélite da terra, agora numa tonalidade alaranjada... Subindo lentamente na escuridão... Percebo então que a cena fúnebre fora criada pela imaginação... Talvez uma visão de um futuro... Prefiro crer que seja fruto da mente, devido a um pedido especial da pessoa que na progressão sucumbia na terra dentro de um caixão, que tal melodia fosse o tema do seu funeral.

Experimento diversas sensações inenarráveis... Enquanto a lua sobe e torna-se amarelada, o nó contido em meu tórax se desfaz.... O vazio some à medida que a lua clareia... A lua no seu quarto minguante lembra um lindo e largo sorriso, agora numa tonalidade cristalina... Imponente... Tomando seu lugar de rainha da noite... Iluminando as trevas e me fazendo sentir medíocre diante do seu esplendor.

Fico a contemplar seu sorriso luminescente sem nem uma palavra.... Nem um pensamento... Apenas a reverência e agora o preenchimento no meu peito de um sentimento de felicidade, de gozo, de êxtase, pareço estar em estágio Alfa... Ainda flutuando em uma realidade espiritual pouco compreendida.

Já não a vejo mais pela minha janela, está se dirigindo ao cume do céu negro... De forma repentina sou arrebatado de volta ao meu corpo e surge um pensamento que me traz humildade espiritual...

Ela... Linda... Parecendo um cristal... Esplendorosa... A dama da noite ilumina a tudo e a todos, embora falte algo.... O outro quarto da lua para que ela esteja cheia... Completa!

Observando-a neste estado lembro-me que também me falta algo para que me sinta completo.... Existe um vazio que, assim como na lua, em algumas fases é revelado, provavelmente este vazio seja originado da abstinência química dos compostos liberados naturalmente quando amamos verdadeiramente, aquele frio na barriga... A ansiedade... A saudade... Percebo que tal falta se faz necessária... assim posso sonhar... esperar... sobra espaço para observar as coisas simples e rotineiras, como o nascer da lua... O acordar... O respirar... O abraço apertado... O olho no olho... O beijo... Tais coisas foram feitas fúteis por nós... Humanos medíocres, sem amor, sem tempo e sem empatia.

Oxalá que em todos surja um vazio, pois neste vazio a razão cede e a sinestesia aumenta, tornando-nos sensíveis ao ponto enxergar que tempo e espaço são inconstantes... e que apenas o passado não pode ser alterado, sendo-nos permitido apenas visitar como espectadores.

Na tristeza e na solidão somos solidários, pensamos no próximo, sentimos uma falta... Talvez a falta de doar mais amor incondicional, de ser mais empáticos.

Que possamos ser como a lua minguante, que apesar de não estar completa, ilumina a todos e aguarda paciente o tempo certo do que a completa, e enquanto espera, doa. Que possamos ser filtrados a cada dia como a cor da lua é filtrada a cada instante, à medida que evolui no céu, iluminando cada vez mais, passando do quase púrpura ao branco-azulado.

Aguardo o próximo nascer da lua, púrpura... dilatada... e linda!

 

 

Igor Monteiro

Foto: Igor Monteiro - Registrada na data e momento da inspiração do texto


19 DE OUTUBRO DE 2007

Arquivos Históricos II

Salvador, 19 de outubro de 2007 – 02:42 am.

Falta-me o sono! Apesar de sentir o relaxamento do meu corpo sobre a cama, as pálpebras pesadas, os olhos ardem, mas não consigo parar de pensar. O pior é que não penso em um assunto específico, meus pensamentos parecem estar em um oceano no meio de uma tempestade, numa tormenta... Ouço o silêncio e o ruído da madrugada com um vazio no peito. Justamente este vazio que me incomoda, pareço oco, não sei o que me falta... Talvez tenha perdido algo que habitava dentro de mim. A razão diz que Deus está comigo, mas a emoção já não O sente, sim... já senti Deus dentro de mim.

Desejo ter alguém que me faça sentir uma compulsão de ligar para ouvir a voz... de escrever cartas de amor...de simplesmente sentir que tenho alguém. Não é de uma pessoa específica que sinto falta...creio que sinto falta de amar alguém. Já amei alguém e pude experimentar o doce gosto do fel, o sofrimento que alegra, a compulsão de amar! Sim, isto que me falta, o Amor! Não o amor de alguém para mim, mas o meu amor por alguém. Os olhos já pesam mais. Vou deitar e relaxar o corpo, e descansar os olhos, mas vazio! Será que serei capaz de amar novamente? Só o tempo dirá.

Tenho a certeza de que posso ter quem eu quiser... conheço as ferramentas da sedução, embora não me agrade usá-las sempre, não nasci para isso, para ter muitas mulheres. Quero apenas a que me fará tremer as pernas, a que fará minhas entranhas remexerem e meu tórax se encher novamente.

Nasci mais para amar, embora deseje ser amado com a mesma intensidade e, a única certeza que tenho é que se não for capaz de amar novamente, não serei capaz de ser feliz.

03:02 da madrugada, tentarei dormir e esquecer do vazio no peito, pelo menos até a próxima noite.

 

Igor Monteiro


28 DE FEVEREIRO DE 2008

Arquivos Históricos III

São exatamente 03:58 da madrugada de 28 de fevereiro de 2008, o sono não me acha, aliás... tanta coisa não me acha... Ao olhar pela janela contemplo os sons da madrugada, cercada com uma atmosfera misteriosa, temerosa, vazia. Nada de buzinas, máquinas, carros... apenas o som do forte vento lutando contra a estabilidade das folhas das árvores... imitando a chuva!

Na madrugada, ou melhor, no silencio da madrugada é quando consigo escutar com melhor precisão os meus sentimentos. Sim, eles gritam em meu universo interior, no vazio que sinto esta noite. Um sentimento lúgubre, onde os medos se expressam e a esperança sucumbe. Já fui traído pela esperança, e isto foi a gênese de mais um de meus muitos medos inexprimíveis. Neste momento parece que até a fé me abandonou...me deixando a sós com a madrugada e o som do vento nas folhagens... nesta atmosfera misteriosa e aterrorizante.

Ah... Quisera eu entender os meus próprios sentimentos... meus medos... Neste momento vejo a minha fraqueza, creio que minha única fraqueza, uma vulnerabilidade sentimental que me torna submisso. Ó esperança, por que me abandonastes neste instante? Ó fé, por que enfraquecestes?

Medíocre sou eu neste instante, sem fé... sem esperança... sem amor. Apenas existindo... sem razão... sem por quê.

Estaria eu sonhando? Seria a vida um sonho, e os sonhos o céu? Talvez... nos sonhos somos deuses... onipotentes... oniscientes... onipresentes... Queria eu que ao menos o sono viesse me beijar neste momento, para que eu virasse deus no meu paraíso... eu, na minha onipresença, já teria endereço certo a visitar nesta madrugada. Visitaria o leito da mulher que até o momento tem me feito ter fé na esperança, ela que me fez encontrar a renascença sentimental...Acariciaria seu rosto com minhas mãos divinas, afagaria seus cabelos... velaria por ela, contemplaria o seu sono como quem contempla um tesouro.

Neste momento surge o medo. Estaria eu apenas momentaneamente a amar? Seria novamente traído pela esperança? Ou pior... seria traído pelos meus sentimentos? Temo a extinção repentina deste amor, temo a não reciprocidade... temo me machucar novamente, pois, se isto ocorresse certamente o meu lado mais sublime, desapareceria, me endureceria de tal ponto que talvez não fosse capaz de amar e esqueceria como ser amado. Me analisando neste momento percebo que não há sentimento algum senão o medo. Amor, Esperança e Fé, a trindade que justifica a vida, e neste momento as três me desampararam... assim como o sono. Não sinto o amor...não tenho esperança nem fé e nem consigo me endeusar no paraíso dos meus sonhos, pois a falta de sono me aprisionou aqui, nesta madrugada silenciosa e vazia.

Já são 04:35 da madrugada... deitarei meu corpo na súplica pelo sono, onde serei deus por alguns instantes, e sendo deus poderei ordenar que a fé e a esperança voltem a habitar meu ser... e com a fé e a esperança em mim sentirei o amor... ao menos no sonho.

 

Igor Monteiro